Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013)
Num retiro de pastores, um colega me indagou qual a minha
frustração pastoral após quatro décadas como pastor. Respondi que era ter que
preparar mamadeiras para crianças que nunca cresceram espiritualmente. A maior
parte do tempo e das emoções de um pastor (e da igreja) é gasta cuidando de
gente que não amadurece.
Um colega disse que em sua igreja ele precisa telefonar para
todos os membros ou visitá-los durante a semana, senão eles não vão à igreja,
por que “não foram tratados como merecem”. Em uma igreja, um crente se escondia
atrás de uma coluna e no dia seguinte telefonava para saber se o pastor sentira
sua falta. Igreja é hospital, recebe doentes, mas é lugar de cura. Há doentes
que se recusam à cura. Querem afagos. O Espírito Santo não produz doença, e sim
saúde. Mas as igrejas estão cheias de doentes emocionais. Um diácono, líder de
visitação numa igreja, falou-me de um irmão que mudara de denominação porque na
nova tratavam-no como se fosse a primeira vez que lá chegara. Este não entendeu
o evangelho!
Há igrejas que falam muito de cura. Nesta semana ouvi pela
tevê um pregador repreender (?) câncer, reumatismo, tumores e todas as doenças.
E as doenças espirituais? Nunca vi alguém repreender a infantilidade, melindres
e criancice emocional. Quando eu era criança, havia a figura do garoto que era
“pereba”, como a gente dizia (ruim de bola), mas era o dono da bola. Até
pênalti ele batia. E perdia! Se não, levava a bola para casa. Em criança, vá
lá. Em adulto pega mal!
Parte do tempo para treinar pessoas para o serviço cristão
se perde com bebês espirituais. Muito de nossas emoções se gasta afagando
criancinhas em Cristo. Poderíamos investi-las na busca de pessoas para Cristo.
O alvo de Deus para nós é chegarmos “ao estado de homem
feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não sejamos mais
inconstantes como crianças…” (Ef 4.13-14). Devemos ser crianças na malícia, mas
adultos no entendimento (1Co 14.20). Crianças espirituais impedem a marcha da
igreja de Jesus. São clientes e não soldados engajados na luta!
Graças a Deus que a igreja não se compõe só de deficientes
espirituais. Há adultos espirituais, confiáveis, “pau pra toda a obra”. Em
Monte Dourado, o irmão Sales, meu hospedeiro para os cursos de treinamento da
COBAP, falava-me de alguns irmãos da igreja e dizia: ”São gente com que se pode
contar a qualquer hora. Se a igreja precisar deles às 3 da manhã eles estarão
lá”. Cá na Central também os há!
Frustram-me crianças espirituais que demandam cuidados para
darem um mínimo de resposta à igreja. Mas realizo-me com tantos adultos, “pau
pra toda a obra”. Deus tenha misericórdia das crianças. Que elas tenham juízo e
cresçam. Deus seja louvado pelos maduros. Que eles nunca desanimem!
Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá
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